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Desenvolvimento emocional infantil na aprendizagem

Uma das melhores formas de conseguirmos um real engajamento da criança aos processos de aprendizagem – seja em casa ou na escola – é criarmos condições emocionais positivas e estimularmos uma boa interação desta com o ambiente e com seus pares. O principal combustível da aprendizagem é a motivação e tais estratégias permitem atingí-lo com mais facilidade. Mas como fazê-lo?
Costumeiramente, esta pergunta cerca sempre os pais e os professores, ansiosos por descobrirem a fórmula do sucesso em unir interesse, engajamento e atividades pedagógicas. Mas, primeiramente, é fundamental antes preparar a criança para este momento e um dos passos primordiais é permitir que ela tenha um bom desenvolvimento emocional. O que isto significa?
Desenvolvimento emocional é a aquisição, com o tempo, de meios e formas comportamentais de manifestar seu temperamento no ambiente social e nas atividades cotidianas. Desde os primeiros meses e anos de vida, a criança já apresenta características inatas, que nasceram com ela, e que, assim, parecem ter um forte componente biológico e genético. Estas características levam a respostas motoras e de atenção que geram consequências positivas ou negativas na interação social e na execução de tarefas nos mais diversos ambientes. Como todo comportamento, a persistência ou inibição de determinados “excessos” ou ações emocionais negativas podem ser modulados e modificados pela intervenção de seus cuidadores no sentido de equilibrá-los e permitir melhor adaptação.
Crianças excessivamente extrovertidas e irritadiças podem se ajustar a correções progressivas do meio (pais, cuidadores e/ou educadores) e, aos poucos, se autocorrigindo no sentido de aprenderem a ser mais tolerantes e autoengajados com a necessidade da espera. Por outro lado, aqueles introspectivos e tímidos podem ser estimulados a desenvolverem comportamentos mais extrovertidos e sociáveis. O ideal é a busca do equilíbrio e da capacidade de ser flexível de acordo com as circunstâncias.
Muitos pesquisadores nos últimos 30 anos tem trabalhado com a ideia do desenvolvimento do temperamento precoce como base para entender como auxiliar a criança nestes processos. O temperamento pode ser entendido como um estado emocional que se divide em 2 dimensões: a reatividade e a autoregulação. A primeira pode ser entendido como a forma como a criança reage a uma situação desfavorável ou frustrante de intensidades e formas diferentes. A segunda, como a criança se engaja e se autocorrige demandando mais atenção e controle motor a cada contexto. O desenvolvimento de ambos inicia no primeiro ano de vida e se desenrola durante a fase pré-escolar e escolar. O bebê, mais reativo no começo, deve tender, com o tempo, a assumir uma postura mais autoreguladora1,2.
Levar a criança a buscar formas mais autoreguladas para expressar seu temperamento ou para manifestar-se emocionalmente em condições desfavoráveis é a grande missão de seus cuidadores. O perfil dos cuidadores da criança é decisivo para que ela aprenda a ser construtiva afetivamente e flexível em suas ações motoras e atencionais. Pais explosivos e impacientes acabam criando filhos com perfil muito parecido e o contrário é condizente. Crianças resilientes são muitas vezes frutos de relações onde os temperamentos se acomodam e se entendem apenas pelo olhar e para resultar num bem comum. Estas crianças aprendem melhor pois seu ambiente cerebral consegue “abrir” mais conexões com os mais diversos momentos e pessoas não se negando a viver estes momentos e com estas pessoas.
A aprendizagem escolar, como tal, requer prontidão, motivação e predisposição `a harmonia social e institucional e uma criança resiliente e/ou de temperamento autorregulado tem mais condições de encarar este cotidiano com prazer, flexibilidade, além de mais preparada para empreender o esforço muitas vezes requisitado e necessário. Então, vamos preparar emocionalmente nossas crianças para esta fase tão importante?

Referências:

1Para mais informações, acesse o link: http://www.enciclopedia-crianca.com/funcoes-executivas/segundo-especialistas/funcao-executiva-e-desenvolvimento-emocional
2 Rothbart MK, Bates JE. Temperament. In: Damon W, Eisenberg N, eds. Social, emotional, and personality development. New York, NY: John Wiley and Sons; 1998:105-176. Handbook of child psychology. 5th ed; vol 3.

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5 respostas em “Desenvolvimento emocional infantil na aprendizagem”

Muito bom este artigo. Por favor, comentem mais sobre como estimular a autoregulação em crianças pequenas. Adoro seus vídeos, textos e cursos.

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