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Além do Q.I: como identificar e auxiliar o desenvolvimento de crianças com altas habilidades/superdotação?

Com talentos e aptidões acima da média, esses estudantes também precisam de estímulos para desenvolver toda sua potencialidade.

Ao contrário do que pensa o senso comum, as crianças com altas habilidades/superdotação (AH/SD), também precisam de acompanhamento específico para garantir seu desenvolvimento e pleno aproveitamento de suas habilidades.

Embora em nĂşmeros os casos sejam raros – cerca de 25 mil estudantes, segundo o Ăşltimo Censo escolar (mas o nĂşmero pode ser muito maior, por conta da subnotificação) – a presença de estudantes com AH/SD nas salas de aula oferecem um desafio aos educadores. Sem os estĂ­mulos e compreensĂŁo de suas caracterĂ­sticas, estes alunos podem ficar desmotivados e atĂ© mesmo se afastarem da vida acadĂŞmica. Soma-se a isso a carĂŞncia da oferta de educação especializada e tambĂ©m dificuldades de diagnĂłstico, deixando as crianças mais pobres sem receber o atendimento necessário.

COMPORTAMENTO 

As pessoas com altas habilidades/superdotação possuem uma potencialidade de aptidões, talentos e habilidades muito acima da média, que ficam demonstradas por meio do alto desempenho em diversas atividades que vão se apresentando no desenvolvimento da criança. Um fator determinante para ser incluída dentro do grupo dessa necessidade educacional especial é a constância: essas aptidões precisam ser constantes ao longo do tempo, já que nos primeiros anos de vida pode não ficar tão claro esse padrão de desempenho expressivo.

É o caso por exemplo de crianças com excelente talento musical, com execução de técnica perfeita, semelhante a de um adulto profissional. Ou daquele estudante com raciocínio rápido e alta performance na resolução de problemas ainda muito jovem. Assim, a precocidade e a obstinação dessas crianças aos obstáculos, dificuldades e frustrações do processo de desenvolvimento também é um fator preponderante na identificação.

De acordo com o americano Joseph Renzulli, um dos maiores especialistas no assunto e psicólogo educacional, pessoas com AH/SD possuem têm três traços predominantes:

  • habilidade acima da mĂ©dia: raciocĂ­nio em leitura e matemática, relação especial, memĂłria e vocabulário;
  • comprometimento: motivação empregada ao desenvolver uma tarefa, um foco ou concentração na atividade, com perseverança e paciĂŞncia;
  • criatividade: pensamentos originais, criativos, flexĂ­veis.

Vale ressaltar que para Renzulli – cujo trabalho Ă© referĂŞncia entre outros especialistas – Ă© necessária a presença e interligação entre esses trĂŞs aspectos para definir uma criança superdotada. A presença isolada de um dos trĂŞs traços nĂŁo seria suficiente para definir a superdotação.

DESENVOLVENDO POTENCIALIDADES

Como estão ainda em processo de desenvolvimento, muitas vezes essas potencialidades não são bem desenvolvidas, uma vez que poucos educadores estão aptos a identificar e orientar essas crianças. Embora careça de mais divulgação e investimentos, a educação especializada pode contribuir não só para o desenvolvimento, mas inclusão desses jovens.

Garantir os meios para que as escolas recebam e saibam estimular essas crianças é um dos desafios.

No Brasil, diversos documentos governamentais tratam do assunto. Ainda em 1995, a PolĂ­tica Nacional de educação Especial definiu como portadores de Altas Habilidades/Superdotação aqueles que: “[…] apresentarem notável desempenho e elevada potencialidade em qualquer dos seguintes aspectos, isolados ou combinados: capacidade intelectual geral; aptidĂŁo acadĂŞmica especĂ­fica, pensamento criativo ou produtivo; capacidade de liderança; talento especial para as artes e capacidade psicomotora.”

Apenas em 2013, a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), que regulamenta a educação no paĂ­s, passou a incluir o conceito de altas habilidades/superdotação. A Lei passou entĂŁo a garantir “atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com deficiĂŞncia, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, transversal a todos os nĂ­veis, etapas e modalidades, preferencialmente na rede regular de ensino”. A Lei Federal 13.234, de 2015, visava o estabelecimento de cadastros especĂ­ficos para identificar e garantir esse atendimento aos estudantes brasileiros com AH/SD, da educação infantil Ă  educação superior.

Na prática, uma vez classificados com altas habilidades/superdotação, pela legislação brasileira o aluno tem direito Ă : 

  • adaptação curricular para desenvolver as habilidades do aluno;
  • oferta de atividades em contraturno escolar;
  • aceleração de sĂ©rie – voltada aos alunos com altas habilidades em todas as áreas, que podem ser matriculados em sĂ©ries mais avançadas e acompanhar todo o currĂ­culo, alĂ©m de maturidade para socialização com os estudantes mais velhos.

DESAFIOS

Um dos principais mitos relacionados às pessoas com AH/SD é a de que não precisam de estímulo e são capazes de desenvolver suas habilidades por si só. Mas segundo especialistas o ambiente em que estão inseridas é tão importante quanto os fatores genéticos para exercerem o máximo de suas habilidades e competências.

“O aluno com altas habilidades/superdotação necessita de uma variedade de experiências de aprendizagem enriquecedoras que estimulem o seu desenvolvimento e favoreçam a realização plena de seu potencial” (Alencar & Fleith, 2001).

Outro ponto que pode trazer dificuldade Ă s crianças Ă© o assincronismo, caracterĂ­stica muito presente em pessoas com AH/SD. O assincronismo se refere, por exemplo, Ă  área intelectual-psicomotora, quando a criança aprende a ler precocemente, mas nĂŁo desenvolve a escrita tĂŁo rapidamente por conta da necessidade de maturidade psicomotora. Ou entĂŁo no campo da linguagem e do raciocĂ­nio, quando esse estudante demonstra grande capacidade de compreensĂŁo de um processo matemático, mas tĂŞm dificuldade em expressar seu conhecimento em palavras. 

O assincronismo, comumente, pode levar os estudantes a serem excluídos entre seus pares ou serem mal compreendidos pelos pais e educadores quando não há a identificação de altas habilidades/superdotação e um ambiente em que sejam estimulados corretamente.

Por isso, outro mito é o de que esses estudantes terão sempre um bom rendimento escolar, quando a falta de um olhar especializado que os conduza com adaptações curriculares e estratégias educacionais que levem em conta suas diferenças individuais, podem interferir negativamente no desempenho dos alunos.

Longe de serem tratados apenas como gĂŞnios, as crianças com altas habilidades/superdotação necessitam de um olhar especializado, de inclusĂŁo e acolhimento de pais e educadores para se desenvolverem plenamente – assim como qualquer outro estudante.

REFERĂŠNCIAS:

METTRAU, Marsyl Bulkool e REIS, HaydĂ©a Maria Marino de Sant’Anna. PolĂ­ticas pĂşblicas: altas habilidades/superdotação e a literatura especializada no contexto da educação especial/inclusiva. Em: Ensaio: Avaliação e PolĂ­ticas PĂşblicas em Educação. Dezembro, 2007.

BRASIL. LEI Nº 13.234, DE 29 DE DEZEMBRO DE 2015. Dispõe sobre a identificação, o cadastramento e o atendimento, na educação básica e na educação superior, de alunos com altas habilidades ou superdotação.

BRASIL. LEI Nº 12.796, DE 4 DE ABRIL DE 2013. Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para dispor sobre a formação dos profissionais da educação e dar outras providências.

10 Comments

  • Avatar
    Mariane Bach
    Posted 28/05/2022 at 7:49 pm

    Olá, achei excelente o tema. Gostaria de mais informações, pois é algo que não temos muito conhecimento.
    Obrigada por compartilhar.

    • Avatar
      Solange
      Posted 30/05/2022 at 2:15 pm

      Olá Mariane, tudo bem?

      Ainda não temos outros artigos sobre este tema, mas vamos colocar em nossa pauta abordar sobre este assunto também. Obrigada pelo contato!

      Sol,
      Equipe NeuroSaber đź’™

    • Avatar
      Ines
      Posted 03/06/2022 at 6:24 pm

      Muito obrigada! Tema sensacional!

  • Avatar
    Silvânia Gonçalves da Silva Cassiano
    Posted 31/05/2022 at 4:02 am

    Boa noite Neurosaber. Gostei muito da matéria sobre AH/SD. A Neurosaber tem algum programa nesta área?

    • Avatar
      Solange
      Posted 31/05/2022 at 1:29 pm

      Olá Silvânia, tudo bem?

      Ainda não temos um conteúdo sobre este tema, mas vamos colocar em nossa pauta abordar sobre este assunto também. Obrigada pelo contato!

      Sol,
      Equipe NeuroSaber đź’™

    • Avatar
      Eronice
      Posted 02/06/2022 at 1:25 pm

      Agradeço a Neurosaber por compartilhar conteúdos tão significativos

  • Avatar
    Delci Souza Silva
    Posted 04/06/2022 at 1:47 am

    GratidĂŁo!!!
    Obrigada por disponibilizar sobre esse conteĂşdo. Uma abordagem que preciso saber pelo menos o básico sobre esse material. Assim que possĂ­vel gostaria de saber mais…

    • Avatar
      Solange
      Posted 06/06/2022 at 1:27 pm

      Olá Delci, tudo bem?

      Obrigada pelo carinho! Continue sempre acompanhando!

      Sol,
      Equipe NeuroSaber đź’™

  • Avatar
    Raquel Pacheco de Oliveira
    Posted 06/06/2022 at 12:11 pm

    O tema muito me interessa, pois o vivencio diariamente. Qual caminho seguir para que a pessoa com AH/SD possa gozar dos direitos que a Lei lhe garante? Muitos falam em LAUDO, mas como conseguir esse documento?

    • Avatar
      Solange
      Posted 06/06/2022 at 7:11 pm

      Olá Raquel, tudo bem?

      Sem avaliação não podemos dar uma orientação precisa sobre o caso. É importante buscar um especialista para lhe dar melhores informações e orientação para uma intervenção. De qualquer forma, temos conteúdos no youtube.com/neurosabervideos e também em nosso blog que podem te ajudar em muitas questões.

      Sol,
      Equipe NeuroSaber đź’™

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