Choro, gritos e mordidas: o que fazer quando a criança se desorganiza emocionalmente

Compreender os comportamentos desafiadores na infância — como gritar, chorar e morder — é fundamental para apoiar o desenvolvimento emocional das crianças. Este artigo, baseado em evidências da neurociência, mostra por que essas reações ocorrem e como os adultos podem responder com firmeza e empatia. Acolher, nomear sentimentos, oferecer um ambiente previsível e ser modelo de autorregulação são atitudes que fortalecem vínculos e promovem o amadurecimento emocional infantil.
Conteúdo
Por que a criança grita, chora ou morde?
Esses comportamentos fazem parte do desenvolvimento infantil e não refletem falta de limites ou amor. O córtex pré-frontal, responsável pelo controle emocional, ainda está em maturação nessa fase. Estudos do Center on the Developing Child (Harvard), especialmente na obra de Jack Shonkoff, mostram que essas reações são expressões de um cérebro em formação — não desobediência.
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O que não ajuda: punições, rótulos e indiferença
Reações como ignorar, punir fisicamente ou rotular a criança como “preguiçosa” não a ajudam a se autorregular — ao contrário, aumentam o medo e a confusão emocional, sem ensinar uma alternativa adaptativa.
O que fazer na prática? Acolha vem antes de ensinar
Em momentos de crise emocional, o cérebro límbico (das emoções) domina, e o adulto deve primeiro acolher, depois ensinar. Frases como “Você está bravo? Estou aqui” ou “Vamos respirar juntos e depois conversar” ajudam a restabelecer a calma.
Nomear sentimentos é ensinar a linguagem emocional
Crianças ainda não sabem nomear o que sentem. Se você diz “Você está triste porque perdeu o brinquedo?”, ajuda a construir o vocabulário emocional.
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Dizer o que pode ser feito
Mostrar alternativas ajuda mais que apenas reprovar. Exemplos:
- “Não pode morder. Se estiver bravo, diga ‘não gostei’.”
- “Pode pedir: ‘me devolve, por favor’.”
Estruturar o ambiente: rotina e segurança emocional
Ambientes previsíveis com rotinas claras e espaços acolhedores (como “cantinho da calma” ou brinquedos emocionais) favorecem a autorregulação.
O papel do adulto como espelho emocional
A criança aprende pelo exemplo. O que o adulto expressa emocionalmente é o que ela tende a imitar. Como afirma a pesquisadora Tovah Klein: “A criança empresta o cérebro do adulto para regular o seu.”
Conclusão
Comportamentos como choro, gritos e mordidas são comuns na infância e refletem processos cerebrais ainda em formação. Acolher antes de corrigir, nomear emoções e ser modelo de regulação emocional são práticas que fortalecem o vínculo adulto-criança e sustentam o desenvolvimento emocional com empatia e firmeza.
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FAQ: Como ajudar a criança a se acalmar durante crises emocionais?
Uma crise emocional em crianças é um episódio de intensa frustração, raiva ou tristeza, onde a criança pode chorar, gritar ou até mesmo morder. Essas crises são comuns e fazem parte do desenvolvimento infantil, especialmente em crianças pequenas, como as de dois anos, que ainda estão aprendendo a lidar com suas emoções.
Os sinais podem incluir choro excessivo, birra, comportamentos agressivos, ou dificuldades em se comunicar verbalmente. É importante estar alerta a esses sinais e tentar entender o que pode estar causando a desorganização emocional da criança.
Lidar com crises emocionais envolve manter a calma e agir de forma cuidadosa. Tente estabelecer um ambiente tranquilo, onde a criança se sinta segura. Você pode buscar formas de acalmar a criança, como oferecer um objeto de conforto ou envolvê-la em uma atividade que ela goste, como brincar ou ler um livro.
Sim, é fundamental ensinar a criança a desenvolver habilidades de autorregulação. Isso pode incluir técnicas de respiração, momentos de pausa, ou simplesmente explicar que tudo bem sentir emoções intensas, mas que é preciso encontrar maneiras saudáveis de expressá-las.
Após uma crise, é importante dar à criança o espaço para se acalmar. Converse com ela sobre o que aconteceu, buscando entender seus sentimentos. Pode ajudar a trazer um pouco de normalidade, como oferecer um lanche ou brincar com ela, para que possa recuperar seu equilíbrio emocional.
Certifique-se de observar os gatilhos que levam a essas crises. É importante respeitar as necessidades da criança e estar atento a sinais de estresse ou cansaço. Em alguns casos, procurar um especialista pode ser necessário para entender melhor como ajudar a criança a lidar com suas emoções.
Explique que todos sentimos emoções fortes e isso é parte da vida. Encoraje a criança a compartilhar como se sente e valide suas emoções. Dizer que é normal ficar contrariada ou frustrada pode ajudar a criança a se sentir compreendida e menos isolada em seus sentimentos.
Atividades como desenhar, brincar com massa de modelar ou atividades ao ar livre podem ajudar a criança a processar suas emoções. Essas experiências não só proporcionam um alívio emocional, mas também ajudam a criança a encontrar maneiras saudáveis de expressar o que sente.
Referências
- SHONKOFF, Jack P.; PHILLIPS, Deborah A. From neurons to neighborhoods: the science of early childhood development. Washington, DC: National Academy Press, 2000.
- CENTER ON THE DEVELOPING CHILD – Harvard University. Key Concepts: Serve and Return. Disponível em: https://developingchild.harvard.edu/science/key-concepts/serve-and-return/. Acesso em: 07 ago. 2025.
- DENHAM, Susanne A. et al. Preschool emotional competence: pathway to social competence?. Child Development, v. 74, n. 1, p. 238–256, 2003.
- EISENBERG, Nancy; SPINRAD, Tracy L.; EGGUM, Natalie D. Emotion-related self-regulation and its relation to children’s maladjustment. Annual Review of Clinical Psychology, v. 6, p. 495–525, 2010.
KLEIN, Tovah. How toddlers thrive: what parents can do today for children ages 2 to 5 to plant the seeds of lifelong success. New York: Simon & Schuster, 2014.
