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O que é psicomotricidade relacional e como ela pode ajudar crianças com TEA?

A psicomotricidade relacional, método criado por André Lapierre, busca explorar diversas formas de comunicação, principalmente a não verbal, para contribuir com o desenvolvimento relacional, psicomotor e afetivo de crianças com TEA.

A base dessa teoria é a concepção global do ser humano, focando no aspecto relacional e apostando no desenvolvimento da relação da criança consigo mesma, com os outros e com o mundo através da expressão simbólica.

Neste artigo, vamos explorar como o jogo simbólico espontâneo desempenha um papel central nesse método, favorecendo não apenas o desenvolvimento motor e afetivo, mas também a formação da personalidade e a interação social, especialmente em crianças com TEA.

Quais são os aspectos fundamentais?

Para que você possa entender melhor os fundamentos dessa teoria, precisa conhecer os aspectos que sustentam a prática da psicomotricidade relacional. São eles:

  • Foco nas potencialidades — valorização dos aspectos positivos e das capacidades da criança para contribuir com a construção de uma autoimagem positiva.
  • Comunicação não verbal — foco na linguagem corporal: no movimento, no corpo, no olhar. A ênfase na comunicação não-verbal ajuda a criança a expressar sentimentos e emoções inconscientes a partir da projeção de imagens mentais inscritas no corpo. 
  • Trabalho em grupo — esse é o ponto-chave da psicomotricidade relacional, já que a dificuldade de interagir pode ser superada através das vivências com seus pares, em um ambiente que acolhe a comunicação corporal e a individualidade com respeito e aceitação.
  • Jogo espontâneo — uma metodologia que desperta a espontaneidade da criança, sem direcionamento do terapeuta. O objetivo é propiciar uma vivência corporal com ela mesma, com o outro e com os objetos ao seu redor.

Num primeiro momento, a criança vivencia o jogo sensório-motor, o que favorece a liberação de tensões e ansiedade. Com o tempo, ela se sente mais confiante, aumentando seu conceito sobre si mesma, à medida que suas capacidades são valorizadas e reconhecidas pelo terapeuta.

O jogo ajuda a criança com autismo a construir sua consciência corporal de forma prazerosa e favorece sua entrada no jogo simbólico. O movimento espontâneo, valorizado pela psicomotricidade relacional, leva ao autoconhecimento e ao reconhecimento de emoções e sentimentos não expressos.

  • Materiais — os materiais usados na psicomotricidade relacional são simples, mas permitem que a criança se expresse através deles pelo jogo espontâneo, pois carregam significados simbólicos.

Como funcionam as sessões de psicomotricidade relacional?

As sessões de psicomotricidade relacional seguem uma rotina com ritual de entrada, sessão e ritual de saída. As intervenções se apoiam em objetos com valores simbólicos, como bolas, tecidos, caixas, entre outros. O uso desses materiais favorece o contato com crianças com autismo, pois elas o fazem através de objetos. 

A psicomotricidade relacional clínica é realizada por meio do brincar e funciona como uma terapia, e atua no espaço amplo, em uma sala vazia onde estão disponíveis alguns materiais para a criança brincar e interagir com eles de forma espontânea.

Não é um brincar direcionado, mas cada movimento, material e espaço na sala tem um conteúdo simbólico. Através do brincar espontâneo a criança interage com os materiais e a terapeuta observa e decodifica suas expressões para entender suas necessidades.

Como a psicomotricidade relacional pode ajudar crianças com TEA?

Embora cada criança seja única, as crianças com TEA geralmente enfrentam desafios na comunicação e interação. Por isso, o trabalho em grupo é fundamental para ajudar a criança autista a se relacionar com os outros. Muitas vezes, essas crianças preferem brincar sozinhas e ter um espaço exclusivo.

Dessa forma, na abordagem da psicomotricidade relacional, respeita-se esse desejo, mas gradualmente a criança é incentivada a participar do grupo, desenvolvendo suas habilidades de comunicação conforme suas necessidades.

Além disso, na psicomotricidade relacional, valoriza-se os interesses individuais de cada criança nas brincadeiras. Por exemplo, se uma criança gosta de correr pela sala, a terapeuta pode propor uma corrida em grupo. Dessa forma, a criança é incluída no trabalho levando em consideração suas particularidades.

Em resumo, dependendo do nível de autismo, algumas crianças conseguem entrar no mundo simbólico e brincar de faz de conta, embora a repetição seja comum. Nesses casos, a terapeuta acolhe as preferências da criança e introduz novos elementos e propostas a cada sessão.

O objetivo é integrar o universo de cada criança enquanto amplia-se o jogo simbólico progressivamente. Isso envolve incorporar novos elementos e possibilitar maior interação com os colegas, já que as crianças com TEA precisam experimentar novas situações e relações para seu desenvolvimento adequado.

Restou alguma dúvida sobre como a psicomotricidade relacional pode ajudar crianças com TEA? Deixe nos comentários!


Referências:

SIMEÃO. Débora Lima de Oliveira e colaboradores. Os Efeitos do Programa de Intervenção da Psicomotricidade Relacional com Criança Autista na Construção das Relações Afetivas — Atena Editora 2019. 

O impacto da Psicomotricidade no tratamento de crianças com transtorno do Espectro Autista: revisão integrativa. Revista Eletrônica Acervo Saúde / Electronic Journal Collection Health | ISSN 2178-2091. 

8 Comments

  • Trackback: O que é Lateralidade na psicomotricidade?
  • Avatar
    Rita de Cassia da Silva
    Posted 20/03/2023 at 5:02 pm

    Boa tarde estou concluindo o curso de pedagogia, o TCC será a respeito das dificuldades da educação especial, gostei muito do artigo, obrigada

    • Avatar
      Livia
      Posted 20/03/2023 at 8:32 pm

      Olá Rita, tudo bem?

      Ficamos muito felizes em saber disso! Te desejamos bons estudos!

  • Avatar
    Kellen
    Posted 12/04/2023 at 12:34 pm

    Onde posso realizar uma pós em psicomotricidade relacional em São Paulo?

    • Avatar
      Livia
      Posted 12/04/2023 at 5:46 pm

      Olá Kellen,

      Não temos indicação por aqui. Mas esperamos que encontre uma ótima pós! 💙

    • Avatar
      Solange
      Posted 12/04/2023 at 6:43 pm

      Olá Kellen, tudo bem?

      Informamos que como não temos parcerias, não temos uma indicação nesse momento. Antes de escolher uma instituição, é importante pesquisar as opções e avaliar o currículo do curso, bem como a qualificação dos professores e a reputação da instituição. Você também pode entrar em contato com as instituições para obter mais informações sobre o curso e esclarecer quaisquer dúvidas que possa ter.

      Sol,
      Equipe NeuroSaber 💙

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    Cintia
    Posted 21/05/2023 at 3:00 am

    Em ambiente clinico, a psicomotricidade relacional pode ocorrer apenas em grupo? pois em ambiente clinico muita das vezes não conseguimos inserir outras crianças dentro das sessões.

    • Avatar
      Jhulli
      Posted 12/06/2023 at 6:34 pm

      Olá Cintia, tudo bem?

      A psicomotricidade relacional é uma abordagem que enfoca a relação entre o corpo, a mente e a interação social. Embora seja comumente associada a atividades em grupo, ela também pode ser aplicada em um ambiente clínico individual.

      Em sessões individuais, o terapeuta de psicomotricidade relacional trabalha com a criança de maneira mais direcionada e personalizada, buscando estabelecer uma relação terapêutica sólida e promover o desenvolvimento psicomotor e socioafetivo. Nesse contexto, o terapeuta desempenha um papel ativo, engajando-se na interação com a criança e fornecendo estímulos apropriados para o seu desenvolvimento.

      Embora a presença de outras crianças em um grupo seja benéfica para estimular a interação social e a aprendizagem por meio da observação e do compartilhamento de experiências, é possível realizar sessões individuais de psicomotricidade relacional em que o terapeuta desempenhe o papel de parceiro de interação e estímulo para a criança. Nesses casos, é importante que o terapeuta esteja atento às necessidades individuais da criança e adapte as atividades de acordo com seu perfil e processo terapêutico.

      Jhulli, Equipe NeuroSaber 💙

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