Quais as recomendações sobre diagnóstico e tratamento do autismo

A identificação precoce dos transtornos do neurodesenvolvimento é fundamental para o bem-estar das crianças e de suas famílias. Quanto antes for realizado o diagnóstico de autismo, melhor será o seu tratamento.
A AAP — American Academy of Pediatrics — atualizou suas recomendações clínicas para o Transtorno do Espectro Autista (TEA), enfatizando a importância do diagnóstico precoce, das estratégias de intervenção e descrevendo condições concomitantes como ansiedade e TDAH.
A orientação atualizada oferece recomendações aos médicos na identificação e no tratamento do TEA. Quanto mais cedo iniciarem as intervenções, maior a probabilidade de se obter resultados positivos. Saiba mais, neste artigo.
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Recomendações sobre diagnóstico do autismo
- Observar o desenvolvimento e o comportamento da criança nos primeiros anos de vida e, nas visitas ao pediatra incluir triagem de desenvolvimento aos 9, 18 e 30 meses e triagem padronizada para TEA aos 18 e 24 meses.
- Ajudar a garantir que as crianças com TEA recebam serviços que atendam às suas necessidades comportamentais, sociais e acadêmicas, em casa e na escola.
- Envolver as famílias no planejamento das intervenções e tratamentos.
- Informar os pais e os pacientes sobre as evidências das intervenções e encaminhar as famílias para uma possível participação em pesquisas clínicas e organizações de apoio.
Mudanças significativas no relatório da AAP
Diagnóstico único
O Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-V) publicado em 2013 consolidou a categoria de transtornos do neurodesenvolvimento (transtorno autístico e transtorno desintegrativo) em um diagnóstico único de TEA. Também permitiu o diagnóstico de doenças concomitantes, como TDAH e ansiedade.
O DSM-V descreve os níveis de gravidade dos sintomas segundo a necessidade de suporte em duas categorias: prejuízo na comunicação social e comportamentos restritos e repetitivos.
Diagnóstico e intervenção precoces
A AAP continua a recomendar a observação do desenvolvimento das crianças desde muito pequenas. Embora o TEA possa ser diagnosticado quando a criança tem menos de 2 anos, a idade média de diagnóstico permanece acima dos 3 anos.
A maioria dos entrevistados em uma pesquisa de prática pediátrica de 2017 relatou a necessidade de melhorar os métodos de identificação de autismo.
As práticas clínicas devem rastrear crianças em risco para garantir que tenham avaliação diagnóstica e serviços especializados durante a infância, já que algumas crianças podem não ser identificadas até a idade escolar.
As esperas por avaliações diagnósticas em clínicas especializadas costumam ser longas. Quando são identificadas questões de desenvolvimento, os pediatras devem encaminhar as crianças para intervenção precoce (0–3 anos).
A identificação precoce, diagnóstico e encaminhamento para intervenções baseadas em evidências estão associadas a melhores resultados.
Intervenções
As evidências apoiam o uso de intervenções comportamentais (por exemplo, Análise de Comportamento Aplicada — ABA) para o desenvolvimento de habilidades. As combinações de abordagens comportamentais e a inclusão de terapias mediadas pelos pais passaram da pesquisa para os ambientes comunitários.
Na idade escolar, as habilidades sociais devem ser trabalhadas através de uma abordagem de linguagem pragmática, ensinando o brincar e a interação com os colegas. Muitos alunos com TEA têm dificuldades no funcionamento executivo, TDAH ou ansiedade, afetando o desempenho acadêmico e exigindo tratamento adequado.
As abordagens comportamentais devem ser implementadas antes de considerar a medicação.
Genética e neurobiologia
As pesquisas que examinam a genética e a neurobiologia do TEA progridem rapidamente. Muitos genes associados ao desenvolvimento do cérebro foram identificados e 30% a 40% dos indivíduos com autismo apresentaram em testes a presença de micro arranjos cromossômicos.
As famílias devem ser informadas sobre os fatores genéticos associados ao TEA. A compreensão da interação gene-ambiente e a pesquisa de fatores imunológicos potenciais que afetam o desenvolvimento do cérebro estão aumentando.
Condições médicas em comorbidade
Os pediatras costumam atender crianças pequenas com seletividade alimentar severa e problemas de sono que são posteriormente diagnosticados com TEA.
A recusa alimentar com base na textura, cor, apresentação ou sabor dos alimentos pode estar associada a diferenças sensoriais, ansiedade ou rigidez perseverativa. A maioria das crianças com TEA não tem deficiências nutricionais, mas o seu histórico alimentar deve ser analisado.
A obesidade e a constipação podem estar associadas a sintomas comportamentais. Problemas com o sono são frequentes em crianças com TEA e devem ser tratados com estratégias de manejo comportamental.
Colaboração com famílias e pacientes
Envolver os pacientes na tomada de decisão compartilhada permite que os objetivos e os valores da família orientem as escolhas terapêuticas. Isso leva a uma maior satisfação com a experiência de cuidado.
Necessidade de pesquisa e desenvolvimento de programas
Muito progresso foi feito na compreensão da avaliação, neurobiologia e tratamento de TEA. No entanto, ainda há muito trabalho relacionado ao diagnóstico preciso e precoce, à compreensão das funções cerebrais subjacentes para que o tratamento direcionado possa ser testado e ao desenvolvimento de intervenções acessíveis para indivíduos e famílias afetadas, desde o diagnóstico até a vida adulta.
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Referências:
BRENTANI, Helena et al. Autism spectrum disorders: an overview on diagnosis and treatment. Rev. Bras. Psiquiatr. [online]. 2013, vol.35, suppl.1 [cited 2020-11-24], pp.S62-S72.
Szatmari, Peter. (2011). New recommendations on autism spectrum disorder. BMJ (Clinical research ed.). 342. d2456. 10.1136/bmj.d2456.
1 Comentário
vocês são òtimos