Quais são as principais dificuldades de linguagem no processo alfabetização?
As dificuldades de linguagem se referem a alterações de aprendizagem ou atrasos da aquisição da linguagem. O processo de alfabetização depende dessas habilidades, entenda melhor, neste artigo.
As dificuldades na linguagem interferem na aprendizagem, principalmente na aquisição da leitura e escrita. A origem dessas dificuldades são muitas e podem ser devido a fatores orgânicos, cognitivos e/ou emocionais, ou ainda, vários fatores em conjunto.
As dificuldade na linguagem podem estar relacionadas a transtornos do neurodesenvolvimento, como o autismo, problemas sensório motores e outros distúrbios. No entanto, podem ser acentuadas por influências ambientais e falta de estimulação adequada.
Neste artigo, vamos falar das habilidades de linguagem que são pré requisitos para o processo da alfabetização. Não só para serem trabalhadas antes, mas durante o processo, principalmente com as crianças com dificuldades de linguagem.
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Dificuldades de linguagem
A linguagem é uma função sustentada pelo desenvolvimento de uma estrutura anatomofuncional geneticamente determinada e pelo estímulo verbal do ambiente. É fundamental para que a comunicação ocorra e, importantíssima para a interação social.
Dessa forma, a linguagem se desenvolve constantemente, ainda que comprometimentos orgânicos, genéticos ou psicológicos estejam presentes em sua estrutura. Decifrar e combinar os símbolos que constituem a linguagem é fundamental para o aprendizado e a troca das informações.
As alterações no processo de desenvolvimento da expressão e recepção verbal e escrita levam a dificuldades de linguagem. Perceber sinais de atrasos e distúrbios de linguagem na criança deve ser um alerta aos pais. Isso porque o diagnóstico precoce evita consequências de aprendizagem e sociais desfavoráveis.
A linguagem no autismo
Sabemos que uma das principais características do autismo se refere a dificuldades na linguagem. A linguagem verbal de crianças com TEA, segundo estudos, apontam traços anômalos nas falas, como a escolha por determinadas palavras, ecolalia, incoerência no discurso, inversão pronominal, entre outras.
Crianças com autismo severo podem apresentar ausência de fala, além de uma tendência a deficiência intelectual e na habilidade de decodificação auditiva da linguagem. No TEA, a compreensão e pragmática são afetadas, ainda que o espectro apresente uma variedade de intensidade dos sintomas.
Algumas crianças com autismo apresentam atraso de linguagem, como outra criança sem o distúrbio, mas esse sintoma inclui perturbações na comunicação não verbal, comportamentos estereotipados e restritos.
Todo esse quadro interfere na capacidade de interação social da criança com autismo, ainda que as dificuldades de linguagem tenham origem no transtorno.
Habilidades de linguagem
Estudos apontam que algumas habilidades relacionadas a linguagem são pré requisitos para o processo da alfabetização. São elas: compreensão, vocabulário, princípio alfabético e consciência fonológica.
Ainda que devam ser estimuladas e trabalhadas com as crianças desde muito cedo, são fundamentais também durante o processo de alfabetização. Dessa forma, é importante que a alfabetização esteja focada na organização das letras, na decodificação.
Habilidades essenciais para o processo de alfabetização
Compreensão
A compreensão no processo de alfabetização envolve a compreensão auditiva — anterior ao processo — e a escrita.
Para uma criança compreender bem precisa de pessoas leiam para lá, desde muito cedo, segundo pesquisas. A criança precisa ver um adulto mostrando para ela o mundo, pra então, compreender. A estimulação precoce depende de uma rotina com leitura, onde a criança conte com pessoas que leiam para ela.
A compreensão da escrita é um processo complexo, envolve a capacidade de extrair e construir significado a partir do texto, em processos intencionais, de solução de problema e pensamento. É uma prática social, cultural e intelectual — depende de um processamento cognitivo.
Vocabulário
Vocabulário — palavras que as crianças precisam saber para se comunicar efetivamente. Elas aprendem e expandem seu vocabulário indireta e diretamente. No entanto, o aprendizado de vocabulário é quase sempre indireto.
Por exemplo, ampliamos o vocabulário das crianças através de brincadeiras e leituras, atividades que não são estruturadas. É claro que as crianças aprendem diretamente e as atividades estruturadas, como as de estimulação de consciência fonológica, são muito importantes.
O ponto aqui é compreender que o vocabulário se aprende e se desenvolve mais de forma indireta, o que não significa deixar de estimular diretamente. Brincar, ler e expor a criança a situações de conversas, estimula o vocabulário.
A linguagem se desenvolve a partir do relacionamento com o outro. Dessa forma, a aprendizagem e a estimulação para o aumento contínuo do vocabulário é muito importante para a criança se preparar para a alfabetização e outras aprendizagens.
O canto, a conversa, a leitura e as brincadeiras propiciam a aquisição de habilidades de linguagem. A criança precisa se sentir motivada para que ocorra um processo de comunicação.
Princípio alfabético
O princípio alfabético é o conhecimento de nomes, formas e sons das letras — indicador mais importante para medir o sucesso de alfabetização. O som de letra — fonema — é um fragmento difícil de perceber. Por isso é importante trabalhar a consciência fonológica antes e durante a alfabetização.
O princípio alfabético é um pré requisito para identificar as palavras. O que difere um leitor bom e um ruim é a capacidade de fazer a correspondência entre letra e som. Portanto, o desenvolvimento da leitura depende da compreensão do princípio alfabético.
Consciência fonológica
É uma habilidade metalinguística e um forte preditor para o processo de alfabetização. A consciência das características formais da linguagem acontece em dois níveis: língua falada, que pode ser segmentada em palavras, em sílabas, em fonemas; e a consciência de que essas unidades se repetem em palavras faladas.
Quanto mais as habilidades de consciência fonológica forem desenvolvidas, mais facilidades a criança vai ter no processo de aquisição da leitura e da escrita.
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Referências:
SCHIRMER, Carolina R.; FONTOURA, Denise R. and NUNES, Magda L.. Distúrbios da aquisição da linguagem e da aprendizagem. J. Pediatr. (Rio J.) [online]. 2004, vol.80, n.2, suppl. [cited 2020-08-31], pp.95-103. Available from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0021-75572004000300012&lng=en&nrm=iso>. ISSN 1678-4782. https://doi.org/10.1590/S0021-75572004000300012.