TDAH ou apenas uma criança levada? Entenda a diferença.
Para fechar o diagnóstico de TDAH, pais, educadores e profissionais precisam observar com critério o comportamento infantil.
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É importante diferenciar o comportamento próprio de crianças ativas dos sintomas de TDAH.
A popularização do diagnóstico do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) nos últimos anos tem promovido melhora no bem-estar de muitas crianças, mas ainda levanta muitas dúvidas dos pais e responsáveis. A principal delas é saber diferenciar um comportamento tipicamente infantil daquele que merece atenção e acompanhamento. Afinal, meu filho tem TDAH ou é apenas uma criança levada?
Para elucidar essa questão, é importante entender alguns pontos relacionados ao TDAH, que pode estar presente em 3% a 6% da população infantil. Em primeiro lugar, o transtorno não é uma doença psiquiátrica, mas sim um problema neuropsiquiátrico, caracterizado por hiperatividade e/ou desatenção/impulsividade, acima do esperado para a faixa etária sexo ou estágio de desenvolvimento (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais ou DSM-IV-TR (APA, 2002).
O TDAH tem origem biológica e hereditária. E embora manifeste-se comumente antes dos 7 anos de idade, vale destacar que nessa fase de desenvolvimento infantil é comum que as crianças apresentem agitação motora, impulsividade e mais dificuldade com a atenção focada em uma atividade, especialmente em ambientes com pouca restrição (como parquinhos ou clubes).
Aquelas com TDAH, no entanto, manifestam esse comportamento de forma mais aguda e em mais de um contexto, como em casa e na escola. Por exemplo, enquanto uma criança dita “levada” apresenta esses comportamentos no parque, mas consegue ouvir as orientações dos pais para ir para casa, tomar banho e brincar com um quebra-cabeças, seu par diagnosticado com TDAH têm o funcionamento social e escolar comprometidos pela hiperatividade, desatenção e impulsividade.
Por conta dessa paridade durante os anos iniciais, pode ser difícil distinguir uma criança com TDAH de outra que não possui o transtorno ainda na Educação Infantil. A entrada no Ensino Fundamental geralmente marca um momento de “divisão”, com exigências comportamentais mais desafiadoras para esses estudantes, como manter-se por muito tempo sentado, realizar tarefas em silêncio e em sequência, e seguir direcionamentos dos educadores.
Os responsáveis também podem notar que idas ao shopping ou ao supermercado, ou até mesmo à casa de outros parentes, tornam-se mais difíceis devido ao comportamento da criança.
Vale destacar que os especialistas responsáveis pelo diagnóstico devem cuidar de diferenciar os sintomas do transtorno de comportamentos próprios da idade em crianças ativas, como correria e barulho em excesso. Nesse ponto, aos pais cabe também separar as críticas de pessoas próximas a esse tipo de comportamento, uma “sapequice” infantil, das características próprias do TDAH.
Também deve-se levar em conta o ambiente em que a criança está inserida. Aquelas advindas de lares altamente desorganizados podem apresentar comportamento semelhante, assim como as que apresentam comportamento opositivo, as que possuem transtorno de movimento estereotipado ou outros transtornos, como do humor e de ansiedade.
Entenda quais são os tipos de de TDAH
Acompanhe na tabela abaixo uma lista com comportamentos típicos de indivíduos com TDAH, em suas diferentes manifestações (hiperativo/impulsivo, desatento e misto/combinado). Para fechar o diagnóstico, é preciso apresentar ao menos 6 dos sintomas descritos abaixo, em ao menos dois contextos diferentes (casa/escola ou casa/trabalho):
TDAH Tipo hiperativo/impulsivo
O diagnóstico de TDAH tipo hiperativo/impulsivo é feito quando a pessoa apresenta ao menos 6 dos seguintes sintomas:
- Inquietação.
- Dificuldade em permanecer sentado (na sala de aula, no trabalho ou em outras situações onde deveria permanecer sentado).
- Corre ou se movimenta com agitação em situações inadequadas.
- Incapacidade de brincar ou se envolver em atividades de lazer em silêncio.
- Incapacidade de permanecer parado (em restaurantes, reuniões) por um longo período sem sentir desconforto.
- Fala excessiva.
- Deixa escapar uma resposta antes que a pergunta seja completada (completa as frases das pessoas).
- Dificuldade em esperar sua vez (na fila ou em uma conversa).
- Interrompe ou se intromete em conversas, jogos ou atividades; usa as coisas de outras pessoas sem pedir ou receber permissão.
TDAH Tipo desatento
O diagnóstico de TDAH tipo desatento é feito quando a pessoa apresenta ao menos 6 dos seguintes sintomas:
- Não dá atenção aos detalhes ou comete erros por descuido nas tarefas escolares, no trabalho ou durante outras atividades.
- Dificuldade em manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas (dificuldade em permanecer focado em palestras, conversas ou leituras demoradas).
- Não parece ouvir quando falam com ele diretamente (a mente parece estar em outro lugar, mesmo na ausência de qualquer distração).
- Não segue as instruções e não termina as tarefas escolares ou de trabalho (inicia tarefas, mas rapidamente perde o foco e é facilmente desviado).
- Dificuldade em organizar tarefas e atividades (dificuldade para gerenciar tarefas sequenciais, manter materiais e pertences em ordem, organizar o trabalho, gerenciar o tempo e cumprir prazos).
- Evita, não gosta ou reluta em se envolver em tarefas que exigem esforço mental sustentado (trabalho escolar ou de casa; preparação de relatórios, preenchimento de formulários, revisão de papéis extensos).
- Perde coisas necessárias para tarefas ou atividades (materiais escolares, lápis, livros, ferramentas, carteiras, chaves, papelada, óculos, telefones celulares).
- Se distrai facilmente por estímulos externos e internos (pensamentos, sensações).
- Esquece de fazer as atividades diárias (tarefas, dar recados, retornar ligações, pagar contas, manter compromissos).
TDAH Tipo misto/combinado
O diagnóstico de TDAH tipo misto/combinado é feito quando a pessoa atende às diretrizes para TDAH desatento e TDAH hiperativo/impulsivo. Ou seja, deve apresentar 6 dos 9 sintomas listados para cada subtipo.
Pais e responsáveis, caso seu filho seja diagnosticado com TDAH, siga as recomendações dos especialistas e estimule a criança a participar do tratamento. Evite críticas excessivas para que ela ou ele não se retraia, manifeste baixa auto-estima ou um comportamento agressivo e impulsivo.
REFERÊNCIAS:
Silva, A. B. B. (2003). Mentes inquietas: entendendo melhor o mundo das pessoas distraídas, impulsivas e hiperativas Rio de Janeiro: Napedes.
DESIDERIO, Rosimeire C. S. and MIYAZAKI, Maria Cristina de O. S.. Transtorno de Déficit de Atenção / Hiperatividade (TDAH): orientações para a família. Psicol. Esc. Educ. (Impr.) [online]. 2007, vol.11, n.1 [cited 2020-11-24], pp.165-176.Harpin, V. A. (2005). The effect of ADHD on the life of an individual, their family, and community from preschool to adult life. Arch Dis Child, 90, (Suppl I), i2-i7.
2 Comments
Gostaria de saber o seguinte: Não é possível que um neuropediatra ou neuropsicólogo feche um diagnóstico de Tdha antes dos 7 anos? A avaliação deve ser refeita após os 7anos para que o diagnóstico seja preciso?
Em relação a dislexia também? Somente após o processo de alfabetização?
Olá Maria, tudo bem?
Você verá no artigo: https://institutoneurosaber.com.br/artigos/diagnostico-errado-de-tdah-e-comum/ que é importante conhecer a fundo o caso do paciente, e neste artigo você terá mais informações sobre a dislexia: https://institutoneurosaber.com.br/artigos/dislexia-qual-a-importancia-da-equipe-multidisciplinar-no-processo-de-diagnostico/
Sol,
Equipe NeuroSaber 💙