O contato visual tem um lugar significativo na comunicação não verbal, pois por ele é possível captar e responder às pistas sociais das outras pessoas.
Geralmente, não fazer contato visual é considerado um ato de desatenção, falta de empatia, de interesse ou grosseria. No entanto, um dos sinais e sintomas característicos do Transtorno do Espectro Autista é a dificuldade de fazer contato visual.
Esse comportamento se apresenta desde o primeiro ano de vida em muitas crianças com autismo, sendo essa característica amplamente debatida e pesquisada em busca de suas possíveis causas.
O que parece sinal de desinteresse é realmente uma dificuldade no autismo. Entenda melhor, neste artigo.
O contato visual no autismo
A princípio, a falta de contato visual no autismo parecia falta de interesse, já que em indivíduos com desenvolvimento típico evitar esse contato é um sinal de indiferença social. No entanto, muitas pessoas com TEA relatam que o contato visual causa desconforto e estresse.
Segundo pesquisadores, isso acontece pois uma parte do cérebro ativada pelo contato visual — o sistema subcortical — é ativada de forma incomum nas pessoas no espectro do autismo.
Esta área do cérebro é responsável por desencadear a atração natural dos bebês por rostos que consideram familiares. O sistema subcortical também ajuda as pessoas a perceberem as emoções.
A dificuldade de contato visual no autismo, portanto, é uma resposta a uma sensação de desconforto, que visa diminuir a excitação excessiva e desagradável causada por essa parte do cérebro.
Além disso, as crianças com autismo podem se sentir desconfortáveis quando expostas a muitos estímulos sociais e sentem dificuldade de se concentrar na fala e nos olhos das pessoas ao mesmo tempo. Também podem não entender as pistas sociais do contato visual, ou seja, que os olhos também fornecem informações em uma interação.
Dessa forma, o contato visual pode ser muito intenso e opressor em termos de experiência sensorial para as crianças com autismo, a ponto de se sentirem oprimidas, estressadas e o evitarem.
Dificuldade no contato visual
Como as crianças com autismo têm dificuldade para transmitir o que querem ou sentem por meio do contato visual, é preciso descobrir qual a melhor forma para interagir com elas. Muitas vezes, são forçadas a olhar nos olhos de alguém, seja para completar uma tarefa ou iniciar uma conversa.
No entanto, forçar crianças com TEA a fazer contato visual pode gerar muita ansiedade para elas. Em vez disso, é preciso entender qual a maneira mais apropriada de ajudá-las a lidar com o contato visual sem estresse.
É importante que as pessoas que convivem com crianças com autismo compreendam suas razões para evitar o contato visual, já que este cria desconforto nelas. Precisamos entender que a falta de contato visual não significa indiferença, mas uma dificuldade devido ao desconforto que provoca.
Formas alternativas para interagir com as crianças com autismo
Muitos adultos com autismo descreveram o estresse que sentiram quando foram forçados a fazer contato visual em suas interações. Afirmam que se distraíam com essas tentativas e, às vezes, a insistência os fazia perder o foco.
Para saber como abordar a questão do contato visual, a primeira coisa a ser feita é observar como cada criança reage. Para algumas, pode ser tão estressante a ponto de fazê-las prestar menos atenção à atividade ou interação.
Procure formas de interação não-verbais, dando sugestões para as crianças sobre como podem demonstrar interesse ou interagir, sem o contato visual. Os pais podem ensinar seus filhos expressões que indicam que estão prestando atenção, como dizer “sim” ou mesmo “aham” durante uma interação social, por exemplo.
Além disso, o contato visual nem sempre tem um impacto negativo nas crianças com autismo. Em alguns casos, quando observar que elas prestam mais atenção fazendo contato visual, é possível convidá-las a fazê-lo.
Essa habilidade pode ser importante para a aprendizagem. Terapias comportamentais ajudam a apoiar as atividades feitas em casa que visam estimular o contato visual.
Como estimular o contato visual no autismo
Como vimos, forçar o contato visual tem um impacto negativo, por isso, o reforço positivo natural e espontâneo pode ser um dos métodos a serem usados no ensino dessa prática.
Ainda que o contato visual possa ser estimulado nas conversas, é muito importante observar o conforto da criança para não forçá-la. Se a experiência não trouxer nenhuma melhoria, não faz sentido continuar com esse estímulo.
Uma dica para ajudar a criança a se acostumar gradualmente com o contato visual, é fazer uma pausa antes de responder aos seus pedidos ou perguntas. Isso pode fazer com que ela olhe em sua direção para checar se foi ouvida. Nesse momento, responda imediatamente e a elogie por fazer contato visual.
Vale lembrar que a falta de contato visual não é suficiente para ser considerada sintoma de autismo. Alguns bebês não conseguem fazer contato visual, mas reagem aos rostos familiares e se viram em direção a eles.
No entanto, a intervenção precoce é muito importante no autismo, por isso pais e cuidadores devem investigar quando seus filhos com menos de 3 anos, não fizerem contato visual e apresentarem atrasos na comunicação social.
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Referências:
FERNANDES, Fabiana. S.. O corpo no autismo. Psic [online]. 2008, vol.9, n.1 [citado 2021-02-12], pp. 109-114 .
GADIA, Carlos A.; TUCHMAN, Roberto and ROTTA, Newra T.. Autismo e doenças invasivas de desenvolvimento. J. Pediatr. (Rio J.) [online]. 2004, vol.80, n.2, suppl. [cited 2021-02-12], pp.83-94.