A criança pode apresentar dificuldade na fala e para aprender a ler e a escrever, no início da alfabetização.
O Transtorno do Desenvolvimento de Linguagem (TDL) está presente em 7 a cada 100 crianças e é três vezes mais comum entre os meninos. Pode ser confundido com outros quadros, mas sua principal característica é a dificuldade no desenvolvimento da linguagem e da fala, mesmo com todas as condições para isso. Ou seja, não há nenhum impedimento do ponto de vista biomédico – como síndromes ou lesão cerebral.
Como afeta diretamente a expressão da criança, dificultando a interação com outras crianças e também o fortalecimento de sua autoestima, o Transtorno de Desenvolvimento da Linguagem precisa de acompanhamento adequado e multidisciplinar, com neuropediatra, fonoaudiólogo, psicólogo e otorrinolaringologista.
Mesmo sem um diagnóstico fechado (veja abaixo), os profissionais podem iniciar a fonoterapia e evitar um prejuízo ainda maior no desenvolvimento da criança, especialmente na alfabetização e bem-estar global.
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Como é feito o diagnóstico
Geralmente, os primeiros sinais de que há algo errado no desenvolvimento linguístico da criança é notado pelos pais a partir dos dois anos de idade, quando seria esperado algum nível de comunicação verbal. É comum entre crianças com TDL que, nessa idade, ainda não falem, demorem para iniciar a produção das primeiras palavras ou tenham um vocabulário muito restrito (apresentam lentidão para aprender novas palavras), além de não conseguirem formar frases.
O diagnóstico inicialmente é feito por exclusão. Ou seja, o profissional irá avaliar se não há outro impedimento para o desenvolvimento da linguagem, como deficiência auditiva, outro transtorno ou atraso de desenvolvimento em outra área, se existe algum fator emocional grave ou mesmo falta de estímulo para a fala e linguagem. Quando todas essas causas são excluídas, são realizados mais alguns testes específicos para confirmar o atraso específico no desenvolvimento dessa área.
Primeiros sinais
Em casa ou na escola, os pais ou educadores podem perceber alguns sinais e avaliar a necessidade de visitar um especialista para o diagnóstico precoce – fundamental para atenuar os efeitos do TDL a longo prazo. Além dos sintomas já mencionados, fique atento se:
- A compreensão linguística da criança parecer alterada;
- A criança troca sons da fala de maneira persistente (alteração fonológica)
- A criança tem dificuldade em estruturar frases, em utilizar verbos e preposições adequadamente (alteração morfossintática);
- A criança tem dificuldade em organizar as palavras em uma frase, invertendo a ordem, por exemplo;
- Fala ininteligível – os pais e cuidadores próximos não conseguem compreender o que a criança fala;
- A criança hesita, repete sílabas e palavras (disfluência);
- A criança tem dificuldade em recontar uma história curta ou relatar fatos;
- A criança apresenta dificuldade séria de aprender a ler e a escrever;
- Há outras pessoas na família com problemas semelhantes (o fator genético contribui).
O Transtorno do Desenvolvimento de Linguagem vem sendo cada vez mais estudado. Pesquisas mais recentes sugerem que as crianças com TDL podem ter a área cerebral responsável pelo processamento da linguagem com funcionamento alterado. Tal alteração não é identificada em exames como tomografia computadorizada ou ressonância magnética, inclusive, apresentando exames com parâmetros normais na maior parte das áreas de desenvolvimento cognitivo.
O TDL não é um fator causador de outras alterações cognitivas, por isso as crianças com esse problema são plenamente capazes de se desenvolver em outras áreas. Como percebem a sua dificuldade e como o atraso impacta na sua vida social, elas podem precisar do auxílio de psicólogos para lidar com possíveis sintomas emocionais, como a depressão.
O quadro pode persistir até a idade adulta e possui graus de gravidade. Algumas pessoas podem apresentar dificuldade para desenvolver plenamente a fala, enquanto outras terão somente uma característica linguística como troca dos sons da fala.
Por isso mesmo, o diagnóstico precoce e correto é fundamental, não só para traçar o melhor tratamento, mas também para que pais e educadores recebam a melhor orientação possível para lidar de forma adequada com uma criança com TDL.
REFERÊNCIAS:
BISHOP, D.M.V; EDMUNSON, A. Language impaired 4 years old: distinguishing transient from persistent impairment. J. Speech Hear Disord, v.52, p.156-173, 1987.
CÁCERES-ACENÇO, Ana; GIUSTI, Elisabete; GÂNDARA, Juliana; PUGLISI, Marina e TAKIUCHI, Noemie. Por que devemos falar sobre transtorno do desenvolvimento da linguagem. Publicado em Audiology – Communication Research (ACR), 2020.