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Alfabetização e autismo: quais são os desafios?

O processo de alfabetização já envolve muitos desafios e isso não é diferente no autismo. No entanto, o desafio pode se tornar ainda maior pela falta de pesquisas conclusivas sobre métodos de alfabetização no autismo.

O Transtorno do Espectro Autista — TEA — engloba características comuns, mas também muito diversas. Uma criança com autismo pode falar e outra pode ser não verbal. Dessa forma, é muito importante o olhar individualizado para a criança no processo de alfabetização.

Neste artigo, vamos falar sobre as características do autismo relevantes para a alfabetização. De modo geral, o processo de alfabetização ocorre da mesma forma, com instrução explícita e a abordagem fônica, mas com adaptações que considerem as necessidades e habilidades das crianças com TEA. Saiba mais.

Transtorno do Espectro Autista

Por volta dos dois anos ou até mesmo antes, a criança pode dar sinais que indicam o autismo. O diagnóstico precoce é fundamental para o tratamento, pois as crianças se desenvolvem muito mais com as intervenções terapêuticas e pedagógicas. É importante, por mais difícil que possa ser inicialmente para os pais, detectar esses sinais, como atrasos significativos no desenvolvimento de seus filhos pequenos. 

O TEA é um transtorno de neurodesenvolvimento caracterizado por déficits de interação social, problemas de comunicação verbal e não verbal e comportamentos repetitivos com interesses restritos.

Os problemas na comunicação e na interação social impactam o processo de alfabetização, devido à dificuldade de compreensão dos contextos e sinais sociais. A comunicação não verbal, os sinais do corpo, são muito difíceis de serem compreendidos pelas pessoas com TEA.

Outra característica marcante no autismo são os comportamentos repetitivos com interesse restrito para determinadas atividades, que às vezes não parecem ter sentido.

Outras características comuns no autismo são:

  • pouco contato visual;
  • pouca reciprocidade;
  • não sabe dialogar;
  • atraso de aquisição de fala e linguagem;
  • desinteresse ou inabilidade de socializar;
  • não compartilhar objetos ou interesses;
  • preferências por objetos a pessoas;
  • visão fragmentada do todo e hiperfoco em detalhes;
  • dificuldade em usar pronomes, ecolalia, uso de jargões e termos ininteligíveis;
  • estereotipias, manias e rituais;
  • problemas grandes com mudança e rigidez de pensamento;
  • mudança frequente de humor;
  • hipersensibilidade auditiva, visuais e gustativas;
  • irritação com estímulos táteis e auditivos;
  • memória muito boa para formas e sequências visuais.

Alfabetização e autismo

Como o transtorno é um espectro, algumas crianças com autismo falam, mas não se comunicam, ou são pouco fluentes e até mesmo não falam nada. Uma criança com autismo não verbal se alfabetiza, mas a dificuldade é maior. Por isso, é muito importante o olhar individualizado.

Outro ponto muito importante a ser considerado é se há ou não Deficiência Intelectual, já que em 50% dos casos de TEA, ocorre essa comorbidade. Por outro lado, 5 a 10% das crianças com TEA apresentam altas habilidades.

Quando a Deficiência Intelectual acompanha o autismo, o processo de alfabetização se torna um desafio ainda maior. Da mesma forma, as características do processamento cognitivo no TEA devem ser consideradas no processo de alfabetização, tais como:

  • disfunção executiva;
  • disfunções motoras e espaciais;
  • lenta velocidade de processamento;
  • baixo engajamento atencional para tarefas sequenciais;
  • memória diversa: excelente para os hiperfocal e ruim para o que não interessa.

As crianças com autismo podem ter facilidade na identificação direta das palavras, ou seja, decoram facilmente as palavras, mas têm dificuldade nas habilidades fonológicas mais complexas, como perceber o seu contexto.

Da mesma forma, apresentam dificuldade na associação das palavras com semântica e com pragmática, em narrativas, análise e frases com significado complexo, palavras com duplo significado e metáforas.

A compreensão do texto é um desafio para o autista. Suas características cognitivas influenciam a alfabetização e devem ser conhecidas pelos professores para considerá-las em suas estratégias de ensino. São elas:

  • Teoria da mente — dificuldade em reciprocidade, ver o outro, empatia.
  • Linguagem literal.
  • Comportamentos repetitivos.
  • Linguagem e comunicação.
  • Conhecimentos prévios.
  • Pragmática — contexto.
  • Interesses e motivações restritos.
  • Interação social.
  • Função executiva.
  • Coerência central — não vê o todo conectado, veem as partes — palavras descontadas.

O processo de alfabetização no autismo

Agora que você já conhece as principais características do autismo e os desafios que elas provocam no processo de alfabetização, é hora de começar o seu planejamento estratégico. Antes de tudo, é preciso conhecer as questões comportamentais da criança com autismo.

O papel da escola é pedagógico, portanto, é importante entender se a criança possui algumas habilidades comportamentais que são essenciais para o seu aprendizado. O contato constante com a família e a formação de professores é fundamental para a inclusão. 

Muitas crianças com autismo não têm autonomia para ir para escola, como alfabetizar? Não existe uma receita e uma única resposta para tudo. É preciso analisar o comportamento de cada criança dentro do contexto em que está inserida.

Os desafios que surgem no processo de alfabetização no autismo não impedem que ele ocorra, mas podem servir de motivação e inspiração para os professores. 

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Referências:

NUNES, Débora Regina de Paula. Elizabeth Cynthia. Processos de Leitura em Educandos com Autismo: um Estudo de Revisão. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/rbee/v22n4/1413-6538-rbee-22-04-0619.pdf

https://educere.bruc.com.br/CD2013/pdf/10470_6215.pdf

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