Existe uma relação entre o que estamos pensando e o que estamos fazendo.
O QUE É PSICOMOTRICIDADE?
A psicomotricidade pode ser definida como “a ciência que estuda e busca as relações e as influências recíprocas e sistêmicas entre o psiquismo e o corpo e entre o psiquismo e a motricidade, emergentes da personalidade total” (ZIRONDI, 2018), ou seja, a Psicomotricidade é a representação motora através das funções cognitivas. Ademais, é uma ciência holística que procura observar um contexto total, considerando aspectos emocionais, cognitivos e motores nas diversas etapas da vida do indivíduo.
EXISTE CORRELAÇÃO COGNITIVA E MOTORA?
Ambos os desenvolvimentos podem estar diretamente interligados, pois o cognitivo e o motor apresentam cronogramas de desenvolvimento prolongados. Isso quer dizer que, se uma criança possui algum transtorno no neurodesenvolvimento, as habilidades cognitivas serão influenciadas, havendo assim um prejuízo que resultará em um impacto negativo no desenvolvimento das habilidades motoras. Portanto, a capacidade tanto cognitiva quanto motora “caminham” juntas e são amadurecidas concomitantemente.
Na prática, isso pode ser percebido com o avanço da ciência, a qual, através de pesquisas, evidenciou que a evolução das partes do cérebro do córtex pré-frontal, dorsolateral e cerebelo dos primatas acontece em paralelo. Vale ressaltar que o córtex pré-frontal é a área do cérebro responsável por funções cognitivas, enquanto o cerebelo é responsável por funções motoras. Em congruência, outros estudos demonstram que ao realizar tarefas cognitivas que sejam novas para o indivíduo, o cerebelo é mais ativo e essa ativação diminui de acordo com o momento em que a tarefa deixa de ser novidade e passa a ser algo familiar para aquele indivíduo.
Por isso, quando a criança está no início do aprendizado da leitura e escrita, os neurônios do cerebelo são recrutados em maior número, pois é uma atividade nova para a criança, logo, é mais difícil, justamente por ser uma novidade para ela. No entanto, no momento que essa atividade é praticada por mais tempo e repetida várias vezes, ela se torna familiar para o aprendente, que terá maior facilidade e domínio, se o processo for aplicado da forma recomendada.
O cerebelo e o córtex pré-frontal atuam como partes indispensáveis de um circuito neural e são importantes quando:
– Uma tarefa ativa é difícil;
– Uma tarefa cognitiva é nova;
– Condições de mudança contínua de tarefa cognitiva;
– Uma resposta rápida é necessária;
– Atividades que exigem concentração.
Essas exigências podem ser percebidas no momento em que a criança está aprendendo a escrever, pois para a criança:
– É difícil escrever;
– Essa tarefa exige ação e proatividade;
– É uma tarefa nova;
– A criança precisa de rapidez para grafar as letras;
– É uma atividade que exige concentração.
Devido a esses fatores, a escrita vai ser uma aliada de extrema importância no processo de alfabetização. Uma pesquisa dividiu um grupo de crianças que aprendem a escrever de forma cursiva no papel e lápis e outro grupo de crianças que aprendem no tablet. O grupo que aprendeu no papel e lápis tem mais efetividade, porque o movimento para escrever a letra exige mais esforço, concentração e adaptabilidade, e essas habilidades ajudam a memorizar, fazendo com que a aprendizagem seja mais rápida e efetiva. Por esse motivo, o processo de escrita deve estar conectado com a leitura.
O QUE É A ESCRITA?
A escrita é qualquer sistema convencional de marcas que representem as expressões de uma língua. No caso, um sistema alfabético é a codificação dos sinais sonoros, pois é justamente a escrita que torna a linguagem visível. E essa linguagem é representada por meio de símbolos (letras), que são as representações dos sons da linguagem.
ALFABETIZAÇÃO
Uma pessoa alfabetizada é capaz de manipular as letras do alfabeto, pois, como foi visto, as letras são símbolos que representam sons. Então, quando uma pessoa consegue decodificar as letras, significa que ela consegue ler, e se ela consegue codifica-las novamente, é capaz de escrever.
ABORDAGEM PSICOMOTORA ESCRITA
A abordagem psicomotora está inserida na grafomotricidade e tal processo está dentro dos aspectos psicomotores da praxia fina.
– Praxia fina: é a manipulação e as funções manuais, por exemplo: pegar um alimento e levar até a boca, pegar um copo de água e beber e qualquer tarefa em que se utiliza as mãos.
– Grafomotricidade: é tudo que utiliza as mãos e, nesse processo, também utiliza um instrumento que marca (lápis, caneta, pincel), ou seja, que vai ter uma expressão gráfica.
A escrita é parte da praxia fina e esta, por sua vez, faz parte das habilidades de grafomotricidade.
DESENVOLVIMENTO MOTOR
Como já foi exposto, o processo de alfabetização vai unir o desenvolvimento motor e da linguagem. É importante que a criança realize movimentos, principalmente na fase da curiosidade e descobertas, em que ela está conhecendo os objetos e as sensações das coisas. Nesse sentido, a realização de atividades como pentear o cabelo, apertar um urso de pelúcia, rasgar papel, entre outras, são essenciais para o desenvolvimento motor. Tais ações podem parecer simples, mas nessa etapa elas possuem grande relevância no desenvolvimento motor da criança.
– É importante salientar que não se deve pular as etapas das fases do desenvolvimento, pois cada habilidade básica adquirida pela criança nesse período é de grande valia e importância no processo de evolução psíquica e motora.
IMPORTÂNCIA DA ESCRITA
A escrita está relacionada ao desempenho acadêmico, pois formar as letras à mão auxilia a obtenção de um maior repertório de palavras tanto no vocabulário como na forma correta de escrever. Estudantes que possuem dificuldade na escrita muitas vezes gastam tempo e energia na tentativa de desenvolver a parte motora ao invés de investir e dedicar esse tempo no desenvolvimento das ideias do que ele vai dissertar. Portanto, fica explícito o impacto que os primeiros anos escolares vão ter na vida do aluno, uma vez que a Psicomotricidade e a Escrita estão interligadas, por isso são habilidades que devem ser bem desenvolvidas durante os anos pré-escolares e escolares.
REFERÊNCIAS
KIEFER, M. et al. Caligrafia ou Datilografia? A influência do treinamento de escrita com caneta ou teclado no desempenho de leitura e escrita em crianças pré-escolares. Advances in Cognitive Psychology, v. 11, n. 4, p. 136-146, 2015. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4710970/. Acesso em: 2 jun. 2022.
JAMES, K.; ENGELHARDT, L. Os efeitos da experiência de escrita manual no desenvolvimento funcional do cérebro em crianças pré-alfabetizadas. Trends Neurosci Educ., v. 1, n. 1, p. 32-42, 2012. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4274624/. Acesso em: 2 jun. 2022.
ZIRONDI, A. P.; MANTOVANI LEITE, S. R. A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL: ALGUMAS CONTRIBUIÇÕES. Encontro Internacional de Formação de Professores e Fórum Permanente de Inovação Educacional, [S. l.], v. 11, n. 11, 2018. Disponível em: https://eventos.set.edu.br/enfope/article/view/9023. Acesso em: 2 jun. 2022.