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Compreendendo o efeito do contato visual em crianças com Autismo

No mundo do autismo, uma das características marcantes é a dificuldade que algumas crianças têm em estabelecer o contato visual. Esse comportamento pode gerar dúvidas e questionamentos sobre como compreender e auxiliar essas crianças da melhor forma. 

Neste texto, exploraremos o efeito do contato visual em crianças com autismo, analisando sua importância na interação social e sugerindo estratégias para promover o desenvolvimento dessa habilidade essencial.

O que é contato visual?

Em nosso dia a dia, estamos acostumados a utilizar o contato visual como uma forma de comunicação não verbal que transmite emoções, interesse e atenção. 

Porém, para as crianças com autismo, o contato visual pode ser desafiador, pois elas podem preferir focar em objetos ou evitar olhar diretamente para o rosto das pessoas.

A importância do contato visual:

O contato visual desempenha um papel crucial no desenvolvimento das habilidades sociais e na comunicação. Esse contato auxilia as crianças a aprenderem, desde produzir os sons da fala, dentre outras habilidades, como se expressarem.

Quando uma criança com autismo faz contato visual, ela demonstra interesse no que está acontecendo ao seu redor e pode se envolver em interações mais significativas. Por exemplo, ao fazer contato visual com seu bebê ou bebê os ajuda a vocalizar e se envolver com você. 

O contato visual é uma parte crucial de ensinar uma criança a se comunicar. Além disso, o contato visual ajuda na compreensão das emoções e intenções dos outros, facilitando a empatia e a interação social.

Porém, em alguns casos, em crianças atípicas, o contato visual pode gerar estresse e desconforto, ou até mesmo causar uma excitação exagerada. E por conta disso, não é uma boa ideia forçar esse tipo de interação, ela precisa ser natural e estimulada com cautela.

Além disso, os pais e cuidadores devem buscar compreender as dificuldades da criança, entendendo que não se trata de desinteresse e apatia, mas sim de um desconforto.

Entenda as razões para a dificuldade do contato visual em alguns autistas:

As crianças com autismo podem ter dificuldade no contato visual por diferentes razões. Algumas delas podem ser hipersensíveis aos estímulos visuais, achando desconfortável olhar diretamente nos olhos. Outras podem ter dificuldade em processar as informações visuais e preferem direcionar sua atenção para outros estímulos. 

Segundo o estudo feito pelos pesquisadores de Yale, “Neural correlates of eye contact and social function in autism spectrum disorder”, publicado pela revista PLOS ONE , existe uma a região específica do cérebro que está ligada ao contato visual reduzido em crianças e adultos com autismo.

A análise foi feita por meio de um método não invasivo de neuroimagem óptica, chamado de espectroscopia funcional de infravermelho próximo. Onde foram estudados participantes típicos e com TEA para que pudessem ter um comparativo de resultados.

Os participantes do estudo receberam equipamentos, parecido com bonés, com muitos sensores que emitiam luz no cérebro que captavam as mudanças nos sinais de luz e transcreviam informações sobre a atividade cerebral durante breves interações sociais, como olhar e contato olho a olho.

contato-visual-no-autismo-1024x412 Compreendendo o efeito do contato visual em crianças com Autismo

A. Participantes com desenvolvimento típico (TD). B. Participantes com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). 

De acordo com os pesquisadores, os participantes atípicos tiveram uma redução considerável na região do cérebro chamada córtex parietal dorsal. Sendo esse córtex localizado atrás do lobo frontal, e possui como função ser responsável pela integração das informações sensoriais.

Além disso, foi possível afirmar que quanto mais graves os sintomas sociais gerais do TEA, menos atividade é observada na região.

A conclusão desse estudo mostra que há uma menor atividade no córtex parietal dorsal ao fazer contato visual. Ou seja, a parte direita desse córtex não funciona da mesma forma em uma pessoa que não possui autismo. 

Portanto, também é importante destacar que o contato visual pode ser uma habilidade que precisa ser ensinada e desenvolvida.

Como ajudar as crianças com autismo no contato visual?

Existem estratégias que podem ajudar as crianças com autismo a desenvolver o contato visual de forma gradual e confortável. Aqui estão algumas sugestões:

  1. Estabeleça um ambiente calmo e seguro: Crie um ambiente livre de distrações excessivas que possam causar desconforto visual.
  1. Use objetos visuais atraentes: Utilize brinquedos ou objetos que despertem o interesse da criança para encorajar o olhar na sua direção.
  1. Reforce positivamente: Elogie e recompense a criança sempre que ela fizer contato visual, incentivando o comportamento desejado.
  1. Seja paciente e respeite os limites: Respeite o ritmo da criança e não a pressione para fazer contato visual se ela se sentir desconfortável. Aumente gradualmente o tempo de contato visual conforme a criança se sentir mais segura.
  1. Utilize técnicas visuais: Utilize recursos visuais, como cartões com fotos ou imagens, para ajudar a criança a entender a importância do contato visual e praticar essa habilidade.

Em suma, o contato visual para os autistas pode desencadear sensações diversas e por conta disso precisa ser estimulado com cautela.

Além disso, é preciso entender que não são todos os autistas que evitam esse tipo de contato, mas sim que essa é uma das características marcantes do diagnóstico. Ou seja, acima de tudo é importante promovermos a inclusão e respeitar os limites de cada criança.


Referências:

https://news.yale.edu/2022/11/09/why-eye-contact-different-autism

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/36350848/

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